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Episódios Transcritos

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Episódio 1: Como surge um filme?

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        Olá! Meu nome é Geovana Pimentel e você está ouvindo o podcast Desvendando o Cinema. No episódio de hoje eu vou te explicar quais são os passos seguidos para a produção de um filme, desde a primeira ideia até a distribuição nas salas de cinema e nas plataformas digitais. Você já teve curiosidade de saber como um filme é feito, ou quem participa de cada etapa de um filme até ele ficar pronto? Se sim, então continua ouvindo que eu vou te explicar tudo isso e mais agora.

        Eu preciso começar explicando que existem alguns caminhos diferentes em relação ao processo do filme, que dependem de fatores como o orçamento, se esse orçamento vai partir de um estúdio ou de um edital público, quem vai roteirizar - se vai ser o próprio diretor ou uma pessoa contratada, ou uma equipe de várias pessoas - , quem vai produzir, quem vai correr atrás de financiamento, etc. Mas aqui eu vou falar de um caminho levando em conta todas essas variáveis.

        A princípio, quando a gente fala de fazer um filme do zero, a primeira coisa que precisa acontecer é a IDEIA. Seja ela uma ideia original ou a ideia de pegar uma história que já existe, tanto da ficção quanto baseada em fatos reais e adaptar essa ideia ao cinema, o filme vai começando a ser pensado a partir dessa ideia inicial. Depois da ideia, existem alguns caminhos possíveis: se a pessoa que teve a ideia também vai ficar responsável por escrever o ARGUMENTO e o ROTEIRO, que são a estruturação dessa ideia de forma mais concreta (e eu vou explicar melhor sobre isso no terceiro episódio do podcast), então a pessoa que teve a ideia vai lá e escreve o roteiro. Se essa pessoa vai chamar um roteirista ou uma equipe de roteiristas para colocar a ideia que ela teve no papel, ela vai atrás disso por conta própria ou com a ajuda de um produtor. Mais pra frente no podcast eu vou explicar um pouco melhor o que o produtor faz tanto nessa etapa da pré-produção quanto nas outras etapas do filme.

        Com o roteiro pronto, o próximo passo é o PLANEJAMENTO das gravações. A equipe de produção, que nessa etapa já vai ter sido definida, vai precisar correr atrás de ambientes onde o filme vai ser filmado, de autorizações, de objetos, figurino, transporte, comida, hospedagem se a equipe precisar… Claro que isso tudo vai ficar registrado em várias planilhas e vai servir como uma forma de organizar cada detalhe e evitar contratempos na hora da gravação. Junto com essas informações, vai também ser calculado o ORÇAMENTO do filme. Esse orçamento vai ser fundamental para a próxima etapa, que é a de CAPTAÇÃO DE RECURSOS. Os recursos de um filme podem vir de um estúdio, que geralmente acontece bastante em Hollywood, podem vir de financiamento coletivo, como vaquinhas online, de recursos próprios ou de editais.  Muitos filmes acabam até unindo duas ou mais fontes de financiamento diferentes para conseguir atingir o valor total do orçamento planejado na pré-produção. 

        Falando mais especificamente sobre os editais públicos, a equipe vai precisar organizar todos esses documentos de orçamento, de argumento, roteiro, definições de público-alvo, os nomes das pessoas da equipe, os documentos dessas pessoas, além de detalhes mínimos sobre o filme que os editais no geral pedem. Nesse momento é importante verificar quais são as solicitações de cada edital e formatar os arquivos de acordo com cada um. Existe também um intervalo de tempo entre a aprovação no edital e a liberação dos recursos que tende a variar, então é preciso ficar muito atento a isso também. 

        Depois do filme ter conseguido os recursos, chega finalmente a hora da GRAVAÇÃO ou produção. A etapa da produção é o período em que o filme é rodado, em que a equipe se desloca para o set de filmagem e grava as cenas de acordo com o que foi escrito no roteiro. Essa etapa pode variar entre dias, semanas ou até meses, dependendo do planejamento feito antes pela equipe. Nesse momento cada setor cumpre o seu papel para que o filme aconteça, por exemplo: o pessoal responsável pela direção de arte monta a cena com todos os objetos que foram planejados para estarem lá, o pessoal do som direto capta os diálogos, mesmo que alguns precisem ser refeitos ou dublados depois, mas no momento da produção é preciso captar o máximo possível, mesmo que não se use tudo depois na montagem do filme. O produtor fica responsável ali pela questão logística, para que tudo ocorra como foi planejado. 

        Também é preciso ficar de olho no cumprimento dos horários, então se, por exemplo, a equipe começa a gravar em uma locação que ficou reservada por 2 dias, e precisa concluir um número x de takes ali, se quando terminar o segundo dia eles tiverem feito um número menor que o x, vai dar uma dor de cabeça enorme para o produtor conseguir aquela locação outra vez e terminar o que tinha sido planejado. Então um dos maiores desafios na produção com locações nesse estilo, de limitação de tempo, de aluguel, é cumprir a ordem do dia sem atrasos. Essa ordem do dia nada mais é que um documento, que geralmente é entregue ou repassado a todo mundo que vai para o set de filmagem trabalhar, com as informações da diária de gravação. Como esse cronograma das diárias com os takes a serem gravados é feito com antecedência, então tudo já fica encaixado e na produção só é necessário executar esse planejamento com o mínimo de mudanças possível. Algumas mudanças inesperadas acabam afetando diretamente o orçamento do filme, que quando é independente geralmente fica mais limitado e isso acaba sendo muito prejudicial. 

        Depois que a equipe de filmagem cumpre todo o cronograma de gravações e consegue o material completo do filme, se inicia a etapa da PÓS-PRODUÇÃO. A pós-produção envolve a montagem do filme, também chamada por alguns de edição, em que o montador vai selecionando os takes e juntando cada trecho até formar o filme completo. Nesse momento também acontece a edição de som, com o que foi gravado no local da filmagem e também sons adicionados depois, como por exemplo:  o som de passos de salto alto, o som de uma porta de madeira abrindo, o som de um garfo de metal batendo num prato de porcelana… Enfim, existem milhares de sons específicos que são adicionados ao filme só na pós-produção. Até o som de determinado tecido de roupa usado por um personagem precisa ser adicionado depois. Se algum diálogo gravado não tiver funcionado, os atores podem ser convidados até um estúdio e dublar as suas próprias cenas para conseguir um diálogo melhor. Nesse momento da pós-produção também vai acontecer o tratamento de cor do filme, a adição de efeitos visuais, se o filme precisar, a mixagem e a masterização do som. 

        Quando a versão final do filme fica pronta, se inicia o processo de DISTRIBUIÇÃO, que hoje em dia tem várias formas de acontecer. O filme ganha um trailer, um pôster ou vários pôsteres alternativos, e as distribuidoras, que são as empresas responsáveis justamente pela comercialização do filme, participam do planejamento de uma estratégia específica para que a obra alcance seu público-alvo, que foi definido lá no começo. Essa estratégia normalmente envolve contratos com exibidores, ou seja, os próprios cinemas.

        A distribuidora também vai analisar o filme: quem é o diretor, qual a trama, quem são as pessoas que compõem o elenco, qual o gênero do filme, entre outros detalhes que interferem nessa distribuição. Com uma campanha pronta, a distribuição começa geralmente com uma data de lançamento e um evento de estreia. A distribuição é um momento crítico, porque é nessa etapa que acontece o retorno financeiro da obra, ou seja, ocorre a venda de ingressos no cinema, os contratos com plataformas de streaming, a participação em festivais e eventos para impulsionar o público a consumir a obra, então a estratégia comercial acaba definindo a circulação do filme. Se o filme vai para as salas de cinema, essa logística de exibição é planejada com antecedência. Se ele vai direto para uma plataforma de streaming, sem passar pelo cinema, a logística é outra. Se ele vai pelos dois caminhos, primeiro no cinema e depois circula digitalmente, se ele vai ter cópias em DVD ou não, se ele vai para algum canal de TV, se ele vai circular em outros locais, como aviões, por exemplo, quantas semanas ele vai passar em exibição em cada local, quantas salas de cinema ele vai ocupar, tudo isso faz parte desse planejamento de distribuição do filme.

        Esse processo completo, desde a ideia até a comercialização, pode variar bastante em tempo.  Em Hollywood, o tempo médio entre o anúncio de um filme e a distribuição nos cinemas é de 871 dias, ou seja, um pouco mais de dois anos. De acordo com uma pesquisa feita por Stephen Follows, que é um pesquisador de cinema estadunidense, a pré-produção costuma levar em média 146 dias, a produção 106 dias e a pós-produção 301 dias. O período entre o anúncio do filme, ou seja, o surgimento daquela ideia e a divulgação dela, e o início da pré-produção leva cerca de 309 dias, segundo essa pesquisa. Os gêneros que são mais rápidos de se fazer em média são os de comédia e romance, enquanto os que demandam mais tempo são os de ficção científica e aventura. Aqui no Brasil, assim como em vários outros lugares no mundo, o tempo de produção de um filme pode variar dependendo de diversos fatores, como a captação de recursos, ou seja, se a equipe vai inscrever o filme em um edital que vai ser publicado no mês de março e finalizou o planejamento do roteiro, do argumento e toda essa documentação adicional do filme no mês de novembro do ano anterior, ela vai ter que esperar até a publicação do edital. Quando ela submeter a inscrição, vai ter que esperar uma análise, vai ter que fazer a defesa oral, que acontece em vários editais, e só quando sair o resultado final, depois da apresentação de recursos, que a equipe vai poder andar com o processo do filme. O tempo da escrita do roteiro é outro que pode se alongar, de acordo com o roteirista e com a quantidade de tratamentos pelos quais o roteiro vai passar. Se o filme exige muitos efeitos visuais, isso também estende o período de pós-produção, enfim… São inúmeros fatores que devem ser levados em consideração com relação ao tempo que um filme precisa para ser finalizado. Por isso que é normal a gente observar um ator comentando em uma entrevista que gravou tal filme no ano de 2016 sendo que o filme estreou em 2018, ou então o diretor falando que teve a ideia desse mesmo filme em 2014. O processo leva bastante tempo mesmo, então se você pretende seguir uma carreira nessa área se prepare para esperar.

        Muito obrigada por ter ouvido esse episódio de Desvendando o Cinema! Se você quiser saber mais informações, é só buscar no instagram do podcast @desvendandopod. Esse podcast foi produzido através de recursos da segunda fase da Lei Aldir Blanc, n. 14.017, de 29 de junho de 2020.

Episódio 2: Termos básicos do cinema

        Olá! Meu nome é Geovana Pimentel e você está ouvindo o podcast Desvendando o Cinema. No episódio de hoje eu vou te explicar alguns dos termos técnicos da linguagem cinematográfica de forma simplificada. Você fica em dúvida sobre a definição de palavras como cena, take, plano, frames por segundo e enquadramento? Se a resposta for sim, continua ouvindo que em breve você vai saber o que cada uma dessas palavras significa.

        Quando a gente fala de cinema, principalmente da estrutura do cinema e da produção cinematográfica, a gente acaba citando alguns termos técnicos que são muito importantes na hora de se discutir o conteúdo de um filme. O primeiro deles, que na verdade representa a menor unidade de um filme ou arquivo de vídeo, é chamado de FRAME. O frame, que também pode ganhar o nome de quadro, é cada uma das imagens congeladas que ficam dentro de um vídeo. Quando essas imagens são exibidas em sequência em determinada velocidade, elas dão a impressão de movimento. Essa velocidade é chamada de Frame Rate, ou taxa de quadros. No cinema, o habitual é usar a taxa de 24 FPS, que significa frames por segundo. Então, a cada segundo se passam na tela 24 imagens congeladas. Em conteúdos na internet, na televisão e em alguns outros modelos de vídeo a taxa também pode ser de 30 FPS, ou seja, a cada segundo se passam 30 imagens estáticas na tela. Existe ainda a gravação de vídeo a 60 FPS, 120 FPS e valores acima disso que geralmente são usados para fazer uma câmera lenta, em que se alonga o tempo de cada frame na tela. Em um filme existe uma quantidade imensa de frames, por isso é comum considerar o frame a menor unidade dentro do cinema. Quando você assiste a um conteúdo audiovisual e você pausa ele, aquilo que você vê na sua tela é um frame, ou seja, uma pequena parte do vídeo que foi congelada. Acho que deu pra entender… No cinema, principalmente em relação à película de um filme, o frame ou quadro também pode ganhar o nome de fotograma.

        O segundo termo que precisa ser explicado é o PLANO, que é um trecho do filme em que um conjunto de imagens, ou frames, possuem um mesmo enquadramento e aparentam continuidade. O que separa um plano do outro é o corte, ou seja, a interrupção daquele trecho gravado de uma mesma câmera para outro trecho gravado a partir de um ponto de vista diferente, que pode ser mais distante, mais aproximado, ou em outros ângulos. Os planos costumam ganhar nomes específicos, por exemplo: o primeiro plano, que também é chamado de plano fechado ou close, é quando a câmera fica bem perto do objeto; já o plano geral ou plano aberto mostra os outros elementos do ambiente com a câmera mais distante daquele objeto; um plano sequência é quando uma sequência inteira do filme aparece sem nenhum corte aparente, dando a impressão de ter sido filmada de uma mesma câmera em um único plano sem cortes. 

        O próximo termo é o TAKE ou tomada, que é tudo que foi registrado pela câmera, desde quando foi apertado o botão do play até o stop. O take nada mais é do que a tentativa de se rodar um plano, e ele pode ser gravado várias vezes para que depois, na montagem, a equipe escolha qual funcionou melhor, corte seu início e seu final e assim obtenha, de fato, um plano. Existe uma forma de diferenciar os takes muito conhecida no cinema, que é a famosa CLAQUETE. A claquete é um dispositivo que serve para identificar os takes rodados durante a produção, e ajudar na organização desses arquivos brutos. Ela é um tipo de placa retangular que consegue produzir um som alto quando acionada no momento em que o take vai ser rodado. Esse som da claquete ajuda na sincronização do material gravado pelos microfones da equipe de som e pela própria câmera, já que ambos são captados em dispositivos diferentes e precisam ser unidos depois sem nenhum atraso entre si. Além de ajudar o editor de som na sincronização, na claquete são escritas diversas informações importantes que facilitam o trabalho do montador durante a pós-produção. Assim que a câmera começa a gravar, aparece em campo o operador de claquete segurando a placa de forma que a câmera possa captar as informações que foram escritas nela. Essas informações são lidas em voz alta e em seguida a claquete é acionada, emitindo o som. Dessa forma, o montador consegue visualizar todos os detalhes sobre aquele take, como o número da cena, o número do plano, o número da tomada, a data da gravação e o nome de alguns membros da equipe, além do nome do próprio filme. Quando ele vai procurar algum take específico, isso facilita muito a busca porque ele só precisa assistir ao início do arquivo para saber de qual take se trata.

        O termo CENA se refere a uma sequência de planos que foram rodados em uma mesma locação e em um mesmo período. Quando se muda a locação, ou seja, se um personagem está dentro de uma casa e sai para a rua em uma ambiente externo, se muda a cena. A separação de cenas fica indicada no roteiro do filme para que a equipe se organize em relação às locações e à organização de uma forma geral de onde aqueles takes vão ser gravados e quais cenários precisam estar prontos na hora da gravação. Já uma SEQUÊNCIA pode ser descrita como o conjunto de cenas que formam um “capítulo” narrativo. Geralmente ela possui uma continuidade temporal, mesmo sendo a união de trechos em ambientes diferentes. 

        O próximo termo é o ENQUADRAMENTO, que é a definição de qual ou quais partes do ambiente e do objeto sendo filmado vão aparecer no plano. O enquadramento vai dizer a respeito da distância entre a câmera e o objeto, o ÂNGULO DA CÂMERA, ou seja, se ela vai filmar de cima para baixo, de baixo para cima ou a nível do olho, se ela vai filmar o ator de frente, de lado, de costas, se vai captar só o rosto ou o corpo inteiro, se ela vai dar mais ênfase ao cenário, todas essas questões de posicionamento da câmera.

        Em relação aos MOVIMENTOS DA CÂMERA, existem várias possibilidades e termos específicos para cada um deles. Eu vou citar aqui alguns dos mais conhecidos e mais usados no cinema, lembrando que no mesmo plano podem ser feitos mais de um movimento de câmera, ou seja, um seguido do outro.  O movimento PAN, ou panorâmico, é um movimento horizontal, geralmente mais lento, de um lado para o outro. Tanto nesse movimento quanto em vários outros a câmera pode ser colocada em um tripé ou monopé, pode estar em um estabilizador ou sendo segurada pelas mãos. O movimento de TILT é semelhante ao pan, mas feito verticalmente ao invés de horizontalmente. A câmera, então, faz um movimento, geralmente lento, de cima para baixo ou de baixo para cima. O movimento de CHICOTE, ou whip, acontece com um deslocamento de um ponto a outro, assim como pan e tilt, mas de forma mais brusca e acelerada. Quando se pausa no meio de um movimento de chicote o frame fica borrado, por conta da alta velocidade do movimento da câmera. O TRACKING é o movimento em que a câmera acompanha o ator ou o objeto da ação enquanto ele se desloca pelo cenário. Um exemplo pode ser a câmera que segue um personagem enquanto ele caminha pela rua ou um animal enquanto ele corre numa floresta, por exemplo. O TRAVELLING é a movimentação de câmera em um mesmo eixo, que pode ser de aproximação, ou dolly in, de distanciamento, ou dolly out, lateralmente ou de cima para baixo. O dolly in geralmente funciona como uma forma de chamar a atenção do espectador para determinado assunto na cena, seja ele um personagem ou objeto. A câmera lentamente se aproxima daquele objeto e o plano passa a ser mais fechado aos poucos. O dolly out pode funcionar como o oposto, em que a câmera deixa de focar em um determinado ponto e passa a mostrar um cenário completo, se distanciando para mostrar mais enfaticamente onde aquela pessoa ou objeto se encontra. O tracking lateral acontece de uma forma diferente da panorâmica, porque apesar da câmera também ter a função mostrar o cenário de um lado até o outro, câmera fica parada e o que muda é a direção para onde ela aponta. No tracking vertical a câmera se desloca de cima para baixo, também mantendo a mesma direção e se locomovendo no espaço. O ZOOM, por sua vez, acontece quando a câmera fica parada, mas ocorre a simulação de um movimento, que na realidade se trata de um efeito óptico obtido pela lente, alterando o campo de visão por meio da milimetragem. Apesar disso, no zoom a câmera costuma ficar parada.

        Os termos EM CAMPO e FORA DE CAMPO dizem respeito ao que o espectador pode ou não  visualizar em cena. Aquilo que a câmera vê é o que está em campo, que é a porção do espaço que foi selecionada no enquadramento. Tudo que a câmara não vê, mas que o imaginário do espectador permite reconhecer que existe naquele ambiente, fica fora de campo. Um exemplo disso é um diálogo entre duas personagens, mas só uma é mostrada pela câmera. Você saberia pelas duas vozes e pela expressão facial da personagem filmada que ela conversa com alguém naquele mesmo ambiente, mesmo se a outra pessoa não for mostrada no plano, ou seja, estiver fora de campo. Já quando se fala de CONTRACAMPO, se descreve uma alternância entre um ponto de vista e outro, como também pode acontecer numa cena de interação entre duas pessoas. Em determinado momento só uma delas fica em campo, depois vem um corte e no plano seguinte aparece a outra pessoa. Essa sucessão de planos faz com que o espectador possa acompanhar o diálogo enquanto observa as duas pessoas alternadamente.

        Em relação ao que está ou não fora de campo, existem também os termos de voz OFF SCREEN e VOICE OVER, que são estilos diferentes de exibição de determinada voz em uma cena. Os diálogos Off Screen (que nos roteiros aparece com a sigla OS) ocorrem quando o espectador ouve a voz daquele personagem e apesar de não conseguir ver ele, deduz que aquela pessoa está presente na cena. Já os diálogos em Voice over, marcados pela sigla VO, são de narradores que não fazem parte diretamente daquela cena. O voiceover pode ser a voz de um narrador, pode ser um pensamento ou memória de determinado personagem que não é dita em voz alta, pode ser a voz de um telefone em que a pessoa do outro lado da linha não está na locação, alguém que lê uma carta em voz baixa e o voice over auxilia na transmissão daquela mensagem com a voz da pessoa que escreveu, pode ser uma voz que sai de um rádio ou um carro de som, entre outros exemplos de vozes que não estão em um diálogo direto na cena.

Uma ELIPSE no cinema significa um salto temporal ou a omissão de determinado trecho durante o filme, que não foi mostrado mas que pode ser deduzido. Por exemplo, um personagem vai dormir à noite e em seguida se mostra uma cena da cidade onde ele mora iluminada pela luz do sol e do personagem acordando de manhã. Não foi exibido o personagem dormindo durante toda a noite, então existiu um salto temporal entre uma cena e a outra. Esse salto temporal pode servir para ocultar determinadas ações que não agregam nada à narrativa e que são dispensáveis na visão do diretor. As elipses também são usadas para avançar a história e levar o espectador aos momentos de maior relevância.

        Os FADES são termos conhecidos por serem os tipos mais comuns de transição de planos. Existe o fade in, que acontece quando uma tela completamente escura ou de uma cor sólida gradualmente transiciona para um plano, ganhando as características de iluminação dele aos poucos. Já o fade out é o processo inverso, quando o plano vai gradualmente se dissolvendo até que a tela fique completamente escura ou completamente clara sem distinção de cor e luz. Um crossfade ou dissolução cruzada acontece entre dois planos, em que eles gradualmente se transformam. No meio do crossfade os dois planos ficam sobrepostos e aos poucos o segundo vai ganhando destaque até que o primeiro não consegue mais ser visto. Os fades podem ter durações variadas, desde alguns centésimos até vários segundos ou mesmo minutos.

        Por fim, vamos falar sobre MISE-EN-SCÈNE. Esse termo significa na tradução literal do francês a colocação em cena, ou seja, é a disposição de elementos na construção daquilo que vai ser gravado. Isso pode incluir o cenário, as escolhas de iluminação, o figurino, a maquiagem, a atuação, o posicionamento corporal e tudo que pode ser visto em campo. A expressão mise-en-scène além de ser usada no cinema, também é falada no teatro, que diz respeito à organização espacial e atuação no palco. Em relação ao cinema, esse termo costuma aparecer muito em críticas ou quando acontece uma discussão sobre aspectos da aparência de determinado filme, em que se analisa tudo que pode ser visto em cena, ou seja, o conjunto completo da obra apresentada ao espectador visualmente.

        Muito obrigada por ter ouvido esse episódio de Desvendando o Cinema! Se você quiser saber mais informações, é só buscar no instagram do podcast @desvendandopod. Esse podcast foi produzido através de recursos da segunda fase da Lei Aldir Blanc, n. 14.017, de 29 de junho de 2020.

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